Fotos - Alexsandra Pavão
sábado, 22 de novembro de 2008
A Jornada
Por Thiago, Alexsandra, Camila e Stella
Saindo de casa de manhã para mais um dia desgastante, de muito estudo, pensando nas dificuldades e afazeres cotidianos, Laila, estudante, 23 anos, fala mansa, prepara-se mais uma vez para enfrentar o longo trajeto que encara todos os dias para chegar às duas faculdades que cursa: Biologia na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e Ciências Naturais no Centro Federal de Ensino Tecnológico (Cefet).
Estávamos dentro de um ônibus, lotado, indo do centro da cidade para Goytacazes. As poltronas eram compridas e já meio desgastadas. Durante a viajem a jovem comentou que prefere andar de ônibus, já que os acha mais seguros, mas admitiu que quando está com pressa, as vans são uma boa opção, são mais rápidas e facilitam a chegada ao local desejado. Os ônibus podem ser mais seguros em se tratando de os motoristas que são instruídos e a empresa se responsabiliza, em caso de acidente. Mas muitos passageiros são roubados diariamente dentro dos ônibus, muitas vezes sem perceber que estão sendo vítimas de um furto, já em uma lotada um furto ou roubo é difícil de acontecer. Daria para enumerar os prós e os contra entre o transporte viário regular e o irregular.
O barulho alto do motor atrapalhava um pouco a conversa, era necessário falar mais alto do que o normal. Laila, como muitos passageiros, confirmou que o estado dos coletivos em geral, é preocupante. Os carros são mal conservados, não possuem estrutura para deficientes físicos, o motor tem um som muito alto, os veículos exalam muita fumaça, sem contar com a imprudência de alguns motoristas, que desrespeitam idosos, estudantes, e até mesmo a sinalização de trânsito. Todas essas precariedades geram grande desconforto para passageiros.
Próxima ao seu ponto final, a moradora de Goytacazes, lembrou que os ônibus que fazem a linha para a Uenf têm horários certos para passar, mas o grande problema é que são poucos os veículos em circulação e caso o passageiro perca um ônibus, a espera do próximo é longa. Também não existe transporte alternativo que faça esta linha. O motivo pelo qual esse transporte não existe, as empresas e fiscalizações preferem não comentar. Mas todos sabem que o problema daquela área, fica por conta da favela Tira Gosto que toma conta daquela área, impedindo o transporte alternativo. Sendo assim a única opção é perder muitos minutos à espera destes demorados ônibus.
Após a conversa com a universitária, o que imperava era o desejo de achar uma possível solução para estas dificuldades.
Ao dar início às tentativas de uma saída para o caso, a grande dificuldade foi encontrar o telefone da empresa responsável por aquelas linhas. Em lugar algum foi encontrado o telefone da Conquistense, muitas foram as tentativas sem sucesso. Além de mais ônibus, a empresa também necessita de uma comunicação mais acessível.
Sem sucesso com a Conquistense, o jeito foi entrar em contato com a Empresa Municipal de Transportes (Emut), onde o diretor Alexandre Oliveira, afirmou que o problema da falta de coletivos naquela área realmente existe, atrapalhando a vida dos estudantes e moradores daquela localidade.
Alexandre, que assumiu o cargo há pouco tempo, não prometeu solucionar de modo imediato estes problemas, mas garantiu que enviaria fiscais no dia seguinte: “Mandarei dois fiscais amanhã para fazer o levantamento de dados, averiguando de forma rigorosa a escassez dos ônibus, o horário, as condições do veículos, entre outras dificuldades”, afirmou o diretor. Ele ainda pediu para que o contato fosse refeito para constatar que os fiscais realmente compareceram ao local citado e se fizeram as apurações.
Vale ressaltar que, em apenas seis meses, cinco diretores diferentes assumiram a Empresa Municipal de Transporte e, dessa forma, encontrar uma saída para essas dificuldades torna-se uma tarefa difícil. A resolução desses sérios problemas necessita de estratégias concretas, e isso jamais será solucionado em um pouco mais de um mês. A difícil situação não é apenas dos veículos, empresas e passageiros. O sistema que envolve a fiscalização está praticamente falido.
A fome estava quase me fazendo desistir de um contato com a Conquistense, quando um dos repórteres envolvidos na matéria ligou e disse que foi até a empresa e lá conseguiu o telefone com um mecânico que estava no portão. Enfim, foi possível o contato. Ao conversar com a atendente, os problemas que atrapalhavam a vida de Laila e de muitos outros universitários e moradores daquela localidade foram expostos. Iindagada se havia algum projeto já traçado para que esta situação fosse redefinida, Liliane admitiu que o trajeto daqueles ônibus é de uma em uma hora e que não há nenhum esquema preparado para mudar quadro. Segundo ela, os usuários dos coletivos precisam expor os problemas: “Para que seja feita a revisão dos horários e das frotas dos coletivos, é necessário que essas dificuldades sejam expostas pelos passageiros. Nós não podemos adivinhar que essas situações existam”. Insistindo com Liliane, perguntei se os estudantes daquela área nunca fizeram uma queixa. Respondeu dando uma alternativa para eles: “O melhor seria se eles fizessem um abaixo-assinado reivindicando melhorias”.
Talvez a Liliane seja nova na empresa, já que ela não sabe dos reais problemas que lá exitem. Reclamações são feitas sempre. Os usuários de coletivos enfrentam problemas diários, fazem reclamações, que muitas vezes não são solucionadas.
E na novela do transporte de Campos todos acabam se dando mal. O ciclo é visivelmente precário. O ônibus atropela o carro, que atropela a moto, que atropela o ciclista. E assim o respeito se vai, junto com a boa vontade e o consenso, num ciclo sem fim. Vítimas de verdade, pessoas que têm suas vidas retiradas assim, como num piscar de olhos.
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